Pedagogia da Autonomia, 2007, p. 24.
no ensinar, se aprende; no aprender, se ensina. talvez seja este
o pensamento mais difundido do querido Paulo Freire. soa lógico. é bonito. mas
aprender, de fato, só existe no quente da vida. não sei quantas pessoas
entendem esse pensamento de coração, quantas compreendem no cantinho mais
profundo de si mesmas.
Painel Paulo Freire - obra de Luiz Carlos Capellano, dez. 2008.
Instalada no Centro de Formação, Tecnologia e Pesquisa Professor Milton de Almeida Santos (CEFORTEPE), em Campinas.
foram cinco anos com o grandinho. só então veio a pequena. a
barriga crescendo trouxe à cabeça um pensamento constante, duro e direto sobre
o ser-mãe, genericamente, e sobre eu-mãe. revisão de mim. (árduo, árido, ardido
este espelho). decidi ser outra mãe com a pequena, mais doce e suave. outra mãe
que eu seria com ela e com o grandinho.
o início do
aperfeiçoamento, hoje vejo.
e assim fui: uma mistura: a que eu era antes mais a que
queria ser - o desejo é sempre maior do que o possível.
mais cinco anos e veio o mini menino. eu-mãe, afundada nas
minhas possibilidades, já era mais leve. enquanto a barriga crescia, outras
seis, sete, oito e, por fim, nove crianças me rodeavam e cresciam junto, numa sala
de aula que se encheu de alegria e preencheu meu coração. de verdade: não tive
tempo de pensar em eu-mãe, só de ser.
então veio o mini menino. minha felicidade fez ser minha
maior vontade, sorrir. eu sorri. e decidi sorrir toda vez que estes olhinhos pequenos me
vissem, fosse quando fosse, no meio de uma madrugada mal dormida, durante um
banho ou em qualquer momento à toa. não um sorriso falso, irônico, sem graça. não
esconderijo de dor. sincero, simples. sorriso! alegre. carinhoso.
passado um ano, eu e o mini menino nos vimos no hospital por
alguns dias. medo, susto e dor se misturaram em mim e nele, cada qual do seu
jeito. mas o danado sorriu. simplesmente. eu aprendi o que nem imaginava ter
ensinado. eu, quando sorri, só queria que ele tivesse uma imagem boa de mim. ensinei
sem saber.
apesar do ruim da situação, foi bonito de ver: ele enfrentou
a dor, o medo e o susto com muita ternura e alto astral – sorrindo – ele é
assim, mesmo!