sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Humor fino

ah se o grandinho não pega bicho de pé...  um mundo de bichos. tudo em uma semana: três em um dedinho só, mais dois em outros dedos e, ora!, um bicho de pé na mão, por que não? se até na testa ele já teve quando pequeneninho... pegamos no ato, quando estava entrando na pele.

inda tem um no calcanhar a ser tirado dentro em breve.

pra não fazer besteira, lá fui ler sobre o tal bicho, que chama penetrans, que a penetra é a fêmea prenha. que bota ovo na nossa pele e que não, não nasce a larva dentro da gente, mas que a bichinha fica lá até morrer e ser expulsa pelo processo inflamatório do nosso corpo. e, então, o corpo do bicho cai do pé.

e daí, completou o grandinho, fica só a alma!


quarta-feira, 29 de agosto de 2012

As crianças e as palavras

nossa, eu tô faminta de frio!, disse a pequena ao sair do banho.


A aposta

o grandinho me propôs um desafio e apostou que eu não conseguiria.

_ mas você quer apostar o quê? perguntei.
_ se você não conseguir resolver o desafio, você me dá aquela nota nova de dez reais. (ele sabe todos os segredos de segurança das notas novas)
_ e se eu conseguir?

ele tirou do bolso uma nota de cinco reais, toda surrada, e uma bolinha pula-pula. 

como recusar uma aposta dessas? 



segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Segunda-feira e um café da manhã especial

depois de ver esse vídeo, nosso café da manhã foi pão com ovo.


precisamos de três ovos para conseguir. 

depois o grandinho teve uma ideia: tentou fritar um restinho de ovo que ficou no prato - com uma lupa!



conseguiu fritar dois milímetros de ovo.
dois não, ele me corrigiu, uns cinco!


domingo, 26 de agosto de 2012

Uma perguntinha

eu ia gostar de ter mais filhotes. 

tem gente que assusta: é doida!

tem também quem fale: ah, pode ter mesmo, seus meninos são muito bonitos, pode ter mais filhos, sim!

eu me pergunto: fossem feios eu não devia ter mais?


sábado, 25 de agosto de 2012

As noites com o grandinho

o pai está viajando. a pequena está com a vó. o mini-menino tem dormido comigo e o grandinho está aproveitando a outra vaga na cama para dormir junto, também.

mas ele se mexe tanto...

dia desses, frio, a cama tinha: um lençol, um cobertor bem macio, um mais grosso e um edredom por cima. 

e lá foi o grandinho. mexe pra cá, revira pra lá; mil estripulias! quando acordamos tinha um cobertor no chão. o mais grosso - bem o do meio! como ele conseguiu derrubar só o cobertor do meio??? 

bem, se nem ele sabe, como é que eu vou saber...


As noites com o mini menino

tudo começou junto com o frio. mas muito frio. frio gelado, desses que só no alto de uma montanha a gente sente.

o mini menino não conseguia dormir: acordava, mamava, dormia. eu o colocava no berço e, cinco minutos depois, de novo: acordava, mamava, dormia. até que percebi - o frio é que era demais.

fiquei com ele bem agarradinho em mim, deitamos na minha cama e, tranquilamente, dormimos. a noite toda!
desde então ele dorme comigo. toda noite.

me alertaram: olha, ele vai acostumar, hein!

tá bom! acostumar com coisa boa tá tudo certo. 
problema é acostumar com o que tá ruim.


sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Historinhas pescadas nas falas de crianças - a estreia!

há alguns anos, quando aqui em casa só tinha o grandinho, ganhei um livro e me apaixonei pelo autor: Manoel de Barros! um livro chegou a mim pelas mãos de uma grande amiga. a gente sentava no chão da varanda de casa e conversaaava. horas a fio. de quando em quando ela aparecia e a gente ficava olhando os urubus voando, era nosso anfiteatro. veio daí minha paixão por eles. veio daí também o livro que ganhei: Compêndio para Uso dos Pássaros - para dar um fundo ainda maior ao nosso anfiteatro, ela escreveu. 

o primeiro capítulo é De Meninos e Pássaros e a primeira poesia, Poeminhas Pescados numa Fala de João. como não gostar logo de cara? 


"Vento?
Só subindo no alto da árvore
que a gente pega ele pelo rabo..."
deste livro mesmo,  na página 13.

o grandinho já pegou muito vento pelo rabo!

então. parafraseando o querido Manoel, está criada a série: histórinhas pescadas nas falas de crianças. 

histórias não só das crianças daqui, mas crianças que cruzam meu caminho pelo mundo afora. histórias não só de hoje, mas também antigas: lembranças.

quem quiser colaborar, vai ser um prazer!

e como homenagem ao grandinho, a primeira história foi pescada na fala dele, quando tinha três ou, quem sabe?, quatro anos e a contou para a vovó:

***

eu tava de motoca descendo o morro lá de casa e fui descendo. fui ficando rápido, bem rápido!

ah é? e como você parou? a vovó perguntou.

ah, eu parei bem caído!



quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Mãe, me olha!

minha prole tem o privilégio de ter uma bisavó e um bisavô. tem o privilégio de poder visitar os bisos de quando em quando - beeem de vez em quando, menos do que eu queria, é verdade, mas ainda assim é um privilégio, não?

minha prole tem o privilégio de brincar na praça em frente ao prédio dos bisos: uma praça grande, com coreto, fonte, igreja e tudo o mais que uma praça grande, central, de interior tem direito. e esse tudo o mais inclui uma cama elástica que é montada toda noite. 

minha prole tem também o privilégio de ter uma vovó super dedicada e disposta que os levou pra brincar na cama elástica: eu não podia, o mini menino já estava dormindo. fiquei em casa. 

como casa de bisos é um tanto parada, saí na sacada do prédio pra olhar os pequenos brincando. era o grandinho que estava pulando, fazendo mil estripulias. ele não me viu.

logo depois, era a vez da pequena. subiu na cama elástica, pulou, pulou e, parece, cansou. até que ela me viu na varanda. me fez tchau, jogou beijinho e começou a pular, pular, pular. muito! mais alto! correr, correr, correr, cair, se jogar!

e lá veio a frase em um momento de distração em que eu olhei para outro lado: mãe, me olha! eu olhei. ela pulou, pulou, pulou, correu, correu, correu, fez tudo, o mais que pôde!

foi então que aquele plim! que só de quando em quando brilha na nossa cabeça me fez entender. essas três palavrinhas ditas por todas as boquinhas infantis do mundo é isso: eu vou fazer o melhor que eu posso, mãe, me olha. eu vou dar o meu máximo, mãe, me olha.

olha, mãe, vale a pena! 


segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Medo compartilhado, medo dissipado

na casa da querida madrinha do grandinho - uma linda indiazona que me ensinou a ser quem eu sou - ele estava brincando de dar sustos no minimenino. faz isso não, meu filho, susto assim pode virar o vento do seu irmão, a madrinha reclamou com ele. e eu completei: menino de vento virado é danado!

danado só, não, ela disse. é danado e fica também com a perna assim, uma maior que a outra, ela mostrou com os braços. quando toma um susto o menino retesa a coluna e fica com o músculo torto, por isso a perninha fica torta. e pra desvirar o vento, uuuiiii!, dá uma trabalheira! tem que pegar o menino e colocar de ponta cabeça. aí encosta os pezinhos dele na soleira da porta, ajeitando as duas perninhas pra ficarem do mesmo tamanho de novo. três vezes. cada vez que encosta a perninha dele lá no alto faz uma reza. e hoje em dia, meu filho, não é qualquer um que faz isso, não. aqui, mesmo, é só a Dona Maria Coração, mais ninguém consegue mais desvirar vento de menino. faz isso não, não fica assustando seu irmão, não.


e assim, o medo de que os sacis, uiaras e etc sumam do mapa se dissipa como que por mágica numa tarde de domingo.


quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Escolha 2

dito e feito! 

o pai não gosta de Nina como nome pra tartarugona. já é o nome da cachorrinha da Thaix. então qual, pai? Zuiuda! olha o tamanho dozóio dela. a gente chega no quarto e a primeira coisa que vê é o olho.

a pequena veio: não disse que ele ia falar nome feio? 

continua sem nome, a tartaruga.

Escolha

I
aqui, os nomes têm histórias engraçadas. hoje descobrimos que o Niltinho não chama Nilton, mas Enilton. e não é Enilton assim, falado Ênilton. é Énilton, agudo. era pra ele chamar Timóteo, mas não deixaram e ficou Énilton. ainda bem, ele disse! a Flávia, na verdade, chama Roseli. e a Manela não é Manuela, mas eu não lembro qual é o nome. o Chilico (ou será Xilico?) chama Edmar e é irmão do Alvimar. tivesse outro irmão, qual mar seria? a Fia é Irailde e o Quimquim, que eu jurava que era Joaquim, é Nelson. Ah, tá! 

tem também a história do Bebeto, filho do nosso antigo vizinho. o pai queria que ele chamasse Nabucodonosor - que eu, na minha pura ignorância, não sabia que era o nome do imperador babilônio que fez os jardins suspensos. pois bem. a Maria do Carvalho, do cartório, não deixou e deu uma lista de nomes pro pai escolher. Ficou Humberto pra poder ser Bebeto. ano seguinte, 94, nasceu outro menino. qual o nome? Romário, claro! Bebeto e Romário! mas garanto que se o Bebeto chamasse Nabucodonosor, seria chamado de algo como Julio, ou Mário, ou Zé. ou qualquer coisa nada a ver com o nome. quem sabe Bebeto, mesmo?

II
quando meu pai estava pra nascer, no meio do mês de junho, minha vó fez uma promessa que ele se chamaria Antonio Luiz, caso corresse tudo bem no parto. homenagem ao santo Antonio, promessa pra ele. assim foi, tudo ótimo. meu vô foi registrar e chegou com a certidão: Artur Adolfo, homenagem aos dois avós. mas e a promessa, meu santo? ficou pro irmão mais novo, que chama Antonio Luiz, mas a gente o chama de Sim. ok!

III
dos três, sou a única filha com nome simples. era pra eu ter Maria depois de Isabela. mas meu pai voltou do cartório sem a Maria. com a pequena foi assim, também. na hora do vamuvê tiramos a Maria de cena. puxou pra mãe! 

IV
o mini-menino quase teve outro nome. demoraaamos pra escolher: tinha que agradar aos quatro, eu, o pai, o grandinho e a pequena. decidimos no oitavo mês e comemoramos! no dia que eu questionei, querendo mudar e colocar um nome mais etéreo, entrei em trabalho de parto. olhei pro pai: vai ser esse nome mesmo, né? e foi. não podia ser melhor! nome bem pé no chão pra um aquariano com ascendente em aquário e lua em gêmeos.


temos uma tartaruga do mar aqui. graaande! uma amiga ganhou do namorado. quando terminou o namoro, ofereceu pra gente. pegamos, assim, sem apego. ela, coitada, é usada como prancha de surf pros meninos descerem a escadinha de três degraus da casa, é usada como almofadão pra assistir tv, como amortecedor do pulo do alto do beliche, enfim... já está com mais três furos no casco, preciso costurar. fosse de verdade a gente acha que ela teria uns 300 anos, pelo tamanho. 

dia desses a gente queria escolher um nome pra ela. faz uns cinco anos que ela mora com a gente. acho que vai ser bom pra criar apego e cuidado! parece que vai ser Nina, mas ainda falta a opinião do pai. a pequena acha que ele não vai gostar e vai sugerir outro nome. mas ele só fala nome feio, ela reclamou.

VI 
a pequena é que é boa pra escolher nome de bonecas: Rainitone, Austa... teve uma cavala que era Quéqueren...

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como me disseram, o nome é uma escolha importante, muito definitiva! é mesmo isso: uma escolha. com afeto, com história, mas sempre uma escolha.


por isso senti o coração de um jeito novo ao saber que vai chegar uma lindinha com o  meu nome - uma homenagem também a mim. meu coração remexeu diferente, meu olho brilhou mais!

   - e até hoje está cheio de lágrimas só de pensar nisso!

que seja muito feliz, a Belinha! 




domingo, 5 de agosto de 2012

Ressignificação

acho muito estranho, me diz o grandinho. como um cego consegue imaginar se ele não vê imagens? como ele lê um livro que fala de bichos e entende o que é e como é um bicho se ele nunca viu um? só se tiver ido num museu pra sentir o bicho! como um cego vê cores? eu acho muito estranho, ele não sabe como é um ser humano: por mais que ele sinta o rosto, a pele e tal, ele não sabe como são as cores e então não sabe como são as pessoas. 
como um surdo aprende a ler e escrever?

o grandinho é um mini filósofo - pergunta, pergunta, pergunta; reflete, reflete, reflete...

e me faz ressignificar a compreensão e a compaixão.


sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Medo compartilhado - ou - como andar para trás?

no blog Quando nada está acontecendo, da Noemi, que foi uma professora minha, leio o que sempre pensei sem conseguir exprimir em palavras. agora me diz, Noemi, como fazer isso?


alguma pista, alguém, por favor?
se a gente soubesse o caminho de volta... 


TERÇA-FEIRA, 31 DE JULHO DE 2012

letra (post hesitante)

é claro que é absurdo idealizar o não letramento do sertanejo mais velho e relacionar diretamente a isso sua sabedoria sobre a natureza e a existência. mas algo que percebo é que, com a aquisição do letramento, adquire-se também uma espécie de figurativização do real que diminui a capacidade de integração orgânica entre a imaginação, a inteligência e os sentidos. o mundo passa a ganhar contornos letrados, as coisas passam a ganhar significados mais claros e definidos. tudo recebe limites. é o destino da letra e do pensamento representativo. acho que os responsáveis pelo letramento das crianças deveriam, cada vez mais, levar em conta possibilidades de integrar o pensamento mágico - sem limites, não representativo, alógico - ao ensino do alfabeto e dos significados das palavras. tenho medo de que, num mundo de correspondência unívoca entre significantes e significados, percam-se os sacis, as uiaras e as simpatias sem pé nem cabeça.