sábado, 28 de abril de 2012

Liberdade e amizade

decidimos:

eu:_o que você acha da lagarta aqui em casa, no terrário?
a pequena: _não sei, ela deve sentir falta da casinha dela.
_ lagarta não tem casa, vive andando por aí, pelo mato.
_ ela deve sentir falta dos filhos dela, então.
_ não, não tem filho também não.
_ mas amiga ela tem, é claro.
_ ah, com certeza.

abrimos o terrário com um potinho de plástico do lado. esperamos a lagarta entrar no pote. demorou! decidimos: ela ficaria perto da amoreira, pra poder comer folha fresca de verdade.

a pequena chorou. é porque eu queria ver ela virar casulo. quer deixá-la aqui, então? não, acho melhor ela ficar com as amigas dela. 

lá fomos nós e a lagarta pra perto da amoreira. ela saiu do pote. foi rápida! bom vê-la caminhando pelo mato.

(como dizer?...  me parece, por vezes, que o sadismo e a 
prepotência nossa – humana – se fantasia de amor, curiosidade, 
conhecimento, amizade o que for. não gosto de bicho preso, 
me fez feliz nossa decisão.)

a pequena chorou, mas desta vez, de feliz.

dois dias depois, quem veio nos visitar na folha de Íris logo em  frente à varanda? a pequena que viu. acho que ficamos amigas, nós três.



quarta-feira, 25 de abril de 2012

Copo e +

sentada no sofá, com nenhuma intenção escondida nas palavras, disse: ai que sede.

de pronto apareceu um copo de água trazido pelo grandinho.

de brinde, uma sugestão: pega uns canudinhos daqueles que dobram e faz um sistema pra ligar no seu peito, aí quando der sede é só tomar seu próprio leite!

os gestos mostrando a engenhoca e o biquinho fazendo glubglubglub finalizaram o presente.


terça-feira, 24 de abril de 2012

Cotidiano


contudo, só em um belo dia – que fica ainda mais belo – percebo que a pequena usa cor do Sol no lugar de pôr do Sol. 

e não é?

criança fala com os sentidos.

fui ter com os eruditos. me disseram que o pensamento das crianças é concreto. bobagem! é sensível, isso sim. 





sábado, 21 de abril de 2012

Sobre literatura infantil 2

daqueles livros que se pode ler em uma sentada, eu li em três dias. para saborear melhor. não é literatura infantil, é o Indez, do querido Bartolomeu Campos de Queiróz. quanto mais o leio, mais me apaixono.

pois o ritmo e a poesia são tão parecidos com os daqui que li em voz alta! o mini menino dormia com a voz e o balanço da rede. a pequena chegou...   foi ficando...   acabou acompanhando, de cabo a rabo.

gostou do Antônio. Antônio, não Toninho ou Tonho. Antônio, assim falado de boca cheia. imaginei a cabecinha da pequena pensando na boca cheia. ou na chuva de pétalas de rosa. no sonho com cheiro de açúcar e canela, no quadrado de sol no chão da sala, na escola...

foi bonito.

quando chorei pela história, ela calou. sentiu junto. não perguntou nada nem pela voz estranha daquelas partes em que o coração apertou minha garganta. dia seguinte foi ela quem chorou, pela princesa eternamente triste. não quis inventar um fim pra história: o choro curou a dor.

Antonio cresceu e acho que a pequena também cresceu um pouquinho com ele.

fim do livro. ela o pegou, abriu a orelha e marcou uma página qualquer: quando a gente pegar o livro, vai pensar que estava aqui, nessa página que tá marcada. entendi o recado, feliz.


Sobre literatura infantil

"literatura infantil" tem, a meu ver, existência duvidosa. Haverá música infantil? Pintura infantil? A partir de que ponto uma obra literária deixa de construir alimento para o espírito da criança ou do jovem e se dirige ao espírito do adulto? Qual o bom livro de viagens ou aventuras, destinado a adultos, que não possa ser dado à criança, desde que vazado em linguagem simples e isento de matéria de escândalo? Observados alguns cuidados de linguagem e decência, a distinção preconceituosa se desfaz. Será a criança um ser à parte, estranho ao homem, e reclamando uma literatura também à parte? Ou será a literatura infantil algo de mutilado, de reduzido, de desvitalizado – porque coisa primária, fabricada na persuasão de que a imitação da infância é a própria infância. Vêm-me à lembrança as miniaturas de árvores, com que se diverte o sadismo botânico dos japoneses; não são organismos naturais e plenos; são anões vegetais. A redução do homem, que a literatura infantil implica, dá produtos semelhantes. Há uma tristeza cômica no espetáculo desses cavalheiros amáveis e dessas senhoras não menos gentis, que, em visita a amigos, se detêm a conversar com as crianças de colo estas inocentes e sérias, dizendo-lhes toda sorte de frases em linguagem infantil, que vem a ser a mesma linguagem de gente grande, apenas deformada no final das palavras e edulcorada na pronuncia... Essas pessoas fazem oralmente, e sem o saber, literatura infantil.

ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia completa & prosa. Rio de janeiro: José Aguillar, 1967.


um bom livro infantil é uma boa leitura para adultos, sem dúvida, acrescento.
 

Esse Horácio, querido Horácio...


é isso. sem mais.
gracias ao Maurício por autorizar a publicação
(chique demais eu, não?!)



sexta-feira, 20 de abril de 2012

Terrário 3


ora, se a lagarta não gostou da folha de amoreira! a pequena percebeu isso: a folha bem esburacada. as de seteléguas, boas para ficar em cima, mas não para comer. 

novas folhas para ela, hoje.

que linda!








 


Invencionices

o grandinho com dois balões na mão: um amarelo e um vermelho. fiquei com o vermelho. ele arreganhou a boca do balão amarelo e me pediu que pusesse o vermelho lá dentro. pus.

muita força pra encher, o menino ficou até vermelho, roxo! nozou o vermelho, o de dentro. um balões, dois bicos.

o balões ficou pesado e laranja. bom de fazer toquinhos, mais rápido!

é disso que se trata ajeitar o cobertor sob o queixo – invencionices.
é disso que se trata o silêncio (era silencioso o amor...): calar por vontade, não por silêncio caro.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Bebê

pouca coisa é tão gostosa quanto um bebê olhar pra gente e abrir um sorriso. aí ele se encolhe todo de feliz e       solta um pum!

Terrário 2 - registros







  



quarta-feira, 18 de abril de 2012

Terrário Para a Lagarta

como que apareceu uma lagarta na varanda, linda, amarela e laranja, bem peluda e com um rabo preto, decidimos tentar vê-la virar borboleta – ou mariposa, quem sabe?

a pequena quase pisou nela quando saiu descalça e o grandinho olhou bem de perto e disse que a cabeça dela parece com a cabecinha do pipi, só que laranja.

colocamos num potinho de plástico, coitada, com uns furos na tampa. mas no ano passado algumas lagartinhas de couve morreram na escola por ficarem num pote de plástico, sem terra pra pisar, sem flores pra olhar, concluiram os pequenos.

então pegamos um tabuleiro, como se diz por aqui, dos grandes. colocamos terra e plantas: capim, picão, folha de amoreira e de seteléguas. toquinhos de madeira pra ela poder andar em cima. flores e pedra, um cristalzão escuro. e um potinho de água. (lagarta bebe água?)

duas tiras de papelão por sobre o tabuleiro, como se faz nas docerias que entregam bolo, e um toquinho de pau embaixo de cada uma delas pra formar o telhado – suporte pro pedaço rasgado de mosquiteiro q vai manter a lagarta lá.


vamos e veremos o que será depois!


Ajeitando o Cobertor sob o Queixo


Bartolomeu Campos de Queirós. Indez.