domingo, 23 de dezembro de 2012

Ô Cride, fala pra mãe

desenho e link mais abaixo da rede Pró-Menino, da Fundação Telefônica.

e quando se corta o cordão umbilical de verdade, talvez por volta dos sete anos, a gente sente a separação que nos diz secamente: olha, vocês são duas pessoas diferentes, daqui pra frente cada um faz seu caminho.  

e o caminho, é lógico, no comecinho tem que ser caminhado de mãos dadas, pra se observar junto as flores e as dores nossas e do mundo.  até que um dia (eu acho) as mãos também se separam e os olhos deste outro que virou outro com a sua ajuda começam a lhe mostrar flores e dores que você não tinha visto. 

certa vez o grandinho chegou verde, pálido, passando muito mal por ter assistido um filme que não devia, Jogos Mortais. foi na casa de um amigo. acontece que de certa idade em diante - que varia de gente pra gente - não se controla tudo que os filhos fazem. o que assistem, o que falam, o que brincam. e isso é bom, né - assim crescemos (nós e eles). mas não é fácil, essa constatação e esse movimento, esse corte no cordão.  

é que mesmo que não se controle, as mãos estão dadas e, aí, a voz e a escuta são mais importantes - conversas. esse, penso eu (faço eu), é o jeito de lidar com as porcarias a que nossos pequenos estão expostos. eu falo isso tudo porque a maternagem vem cheia de conflitos, de perceber que as crianças, as nossas crianças!, vivenciam em outros lugares experiências que nós não queríamos, que nós não nos preparamos. o preparo não é só das crianças, mas nosso também.


eu concordo (como não?) com o Frank La Rue, da ONU, que disse que 
"se um discurso vai contra os direitos das 
crianças não pode ser enquadrado dentro da liberdade de expressão, mas na violação dos direitos humanos."  
porque nem sempre estamos perto, porque junto com a infância está também a vulnerabilidade, acrescento eu.

eu tenho um sonho. que onde haja crianças, os adultos que estiverem por perto cuidarão das crianças. mesmo que não haja qualquer forma de ligação afetiva. um cuidado pelo simples fato de serem crianças. 
sonho, né. mas eu sonho.

e assusto de ver um partido político (PTB) propor que não haja multas para emissoras de rádio e televisão que passarem programas inadequados para crianças em horário diverso do autorizado. dizem que vai contra  a liberdade de expressão. balela, papo furado! porque é ingenuidade pensar que liberdade é fazer o que se quer como se quer quando se quer. liberdade trata de assumir o que se faz e dividir as alegrias e os conflitos destas decisões. 

e se nós decidíssemos andar pra trás e passar qualquer programa em qualquer horário, teríamos que assumir que esta escolha torna as crianças mais vulneráveis ao que não estão preparadas. pra que lidar com essas dores de um jeito agressivo, violento e duro? eu não faço essa escolha, eu escolho a proteção. a infância. o preparo gradual. conversado.

(e por acaso de repente me encontro com Mandela: "a alma de uma sociedade reside no modo como ela trata suas crianças".)

eu não gosto de televisão, eu não gosto de filmes que o grandinho assiste. mas eu tenho que entender que ele não é eu e ele gosta. mas ele tem que entender também porque eu não gosto. e assim caminhamos de mãos dadas. o preparo quem dá somos nós, ao mesmo tempo em que nos preparamos. 
eu penso.



sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

O fim do mundo

o grandinho: mãe, hoje eu tenho que ficar acordado até meia noite, hein. 
por que, filho? 
porque se o mundo acabar eu quero ver.

****

enquanto brincava de boneca, a pequena consolou sua filha: calma, o fim do mundo não vai acontecer. o fim do mundo vai ser quando todas as pessoas do mundo morrerem. e aí 
você vai morrer também.


quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

domingo, 16 de dezembro de 2012

E é difícil...


“Vocês dizem: “Cansa-nos ter de privar com crianças”. Têm razão. Vocês dizem ainda: “Cansa-nos, porque precisamos descer ao seu nível de compreensão”. Descer, reibaixar-se, inclinar-se, ficar curvado. 
Estão equivocados. 
Não é isto que nos cansa, e sim, o fato de termos de elevar-nos até alcançar o nível de sentimentos das crianças. Elevar-nos, subir, ficar na ponta dos pés, estender a mão. 
Para não machucá-las.” 
(Korczak 1981, p. 11) 

Helena Singer.  República de Crianças. Mercado de Letras, 2010, p.  77


terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Leitura

a pequena olha pra sala e diz com sua vozinha de menina: começa com BA e termina com BUNÇA.


segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Grifo dele

se nossa imaginação só imagina a partir daquilo que já vimos ou se criamos algo realmente novo pela imaginação, eu não sei. mas já discutimos sobre isso, eu e o grandinho, e pensamos que tudo depende do que já se viu.

por um ou por outro, o grifo foi criado pelo já conhecido - um leão  e uma águia.

o grandinho, desde que tem O Grande Livro dos Seres Fantásticos, sabe bem destes seres. 

que nome mais apropriado, não? Fantásticos!
o são, realmente.

pois que de repente um dia ele me falou, enquanto eu cozinhava: tive uma ideia: vou criar um grifo. 

_ahn? Como assim, criar um grifo?

_assim: eu vou estudar bem a anatomia de um leão e de uma águia pra saber como juntar os dois e fazer um grifo. só que um grifo é gigante, né, e o meu não vai ser. mas aí, sabendo como é o corpo de cada animal, eu posso congelar eles, fazer toda a cirurgia pra juntar os dois e depois descongelar pra voltar a viver, mas, aí, já como grifo.

(não pude deixar de dizer)
_sabe que uma das maiores discussões das ciências hoje em dia é sobre a nossa possibilidade (ou não) de mexer desse jeito com a vida, de fazer clones, de trabalhar com células  de fetos pra fazer pesquisas, coisas mais ou menos assim...

_é... - ele ficou pensativo.

_na verdade - continuou - eu queria mesmo era fazer um pégasus, mas aí ia ser complicado, como é que eu ia alimentar o pégasus? porque uma das coisas legais de ter um bichinho é poder alimentar, né, dar comida... mas o pégasus pasta nos campos do Olimpo... então eu decidi criar um grifo, mesmo. ele come cavalos, come homens, come tudo quanto é carne. se ele for comer um cavalo e tiver um cavaleiro em cima, vai junto! mas aí eu dava alguma outra coisa pra ele.

lembrei-me de um desenho que tinha visto há alguns dias. imaginei o grandinho.

Gracias ao Laerte  por autorizar publicação de seu desenho!

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Da saudade e de como matá-la

depois de duas semanas longe, recebi um e-mail assim:


dizeres da pequena:
"estou sentindo que meu coração está quebrado,
mas quando eu abraçar a mamãe ele vai ficar bom de novo.
mamãe, eu te amo!"



como que cortou meu coração também, decidi consertá-los - o meu e o dela. respondi:

"mostra a ela essa colagem que fiz e diz que eu falei assim:
amanhã a gente vai ficar desse jeito!
eu também te amo!"


fiz que fiz pro prometido ser cumprido. no amanhã, estávamos assim, juntinhas. com o cartão entregue ao vivo, ela também me entregou um:




e, então, saudade matada por morte morrida a abraços e beijos, eis a representação máxima da saudade:



(pela pequena)



domingo, 2 de dezembro de 2012

Peraltagem

"...e porque a tarde ficasse mais comprida a gente 
sumia dentro dela. [...]"



Manoel de Barros
Memórias Inventadas: a terceira infância
VI
2008.


sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Surpreendente

as surpresas das crianças se escondem em muitos cantos. mas quando são maduras surpreendem mais, caem de uma vez em nossa cabeça e o pescoço até vai pra trás, rearranjando toda nossa postura. 

conversando durante o almoço, o pai contou que me defendeu: _isso não é preconceito dela, é conceito.

o grandinho: _preconceito, pré-conceito, conceito... preconceito, então, não é necessariamente coisa ruim. 

tóim! viro a cabeça na direção dele, sobrancelha franzida: e não é que tá certo?


quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Das galinhas



eu não sei qual dessas que chamou a vovó, mas pode ter sido a preta, também.


Dos ovos da mariposa

11 anos. 11!

e tinham quase 40 pessoas aqui comemorando com a gente. bom, bom! 

a pequena, sempre que pôde, ficou vigiando os ovinhos da mariposa pra ninguém encostar - muito medo. e outro pequeno, também de cinco, falou: deve ser ovo de jacaré!


pois bem, nem jacaré, nem mariposa, nem larva, nem lagartinha, não nasceu nada daqueles ovos... amarelaram, amarronzaram, murcharam e - nada!




vida dura essa de observadores de bichos!

mas, tá bom, tá bom, já apareceram outros ovinho, mesmo! desta vez na caixa de gibis.

a pequena queria tirá-los dali, mas ela viajou. eu e o grandinhos vamos observar enquanto ela não vem. 

Vamos e veremos, de novo, de novo, denovodenovodenovodenovo... 


segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Silêncios II

mas a gente fica doida pra ouvi-lo falar: mã-mãe!


Silêncios

vida com neném é vida em silêncio. se está tudo bem, são sorrisos, gestos, carinhos, expressões e só. corpo e rosto bastam para entendimento mútuo. 


domingo, 25 de novembro de 2012

Golpes de nenéns

concordamos, eu e um amigo do grandinho, que o mini menino tem alguns golpes: dar tapas; bater com as duas mãos (como o king kong); beliscar; morder; puxar o cabelo, o nariz ou a orelha, o que estiver na reta; e - o golpe mais baixo de todos! - chorar.

mas hoje ele se superou e abaixou ainda mais o nível dos golpes: chorou dando três, quatro, cinco passinhos. 

aí já é maldade demais dele!




sexta-feira, 23 de novembro de 2012

O dia em que a cigarra colocou o grandinho pra correr

foi assim.

cigarra, todo dia, canta, ou melhor, grita às sete horas. (sete por que é horário de verão, mas é seis.) grita tanto que parece que o dia inteiro ela sufoca esse grito pra, no seu tempo, na hora exata, se libertar daquilo. soa como um alívio, o grito da cigarra. e é tão alto que ela tem um jeitinho de tapar o próprio ouvido pra não explodir na agudez da sua agonia libertada - isso o grandinho que me ensinou.

mora uma cigarra aqui. uma, não, várias. só que uma está mais próxima da gente, na quaresmeira em frente à varanda. e grita. mas quando alguém passa perto, ela para. 
de uma vez. 
parece que cigarra tem olhos nas costas.

isso, eu contei pro grandinho e ele, desafiado, foi de va ga riinho tentaaando chegar perto dela.

enquanto isso, percebemos:
1. que o grito da cigarra não começa tão agudo, mas vai, bem aos poucos, bem devagar, bem lisinho, ficando cada vez mais agudo.
2. que quando chega no auge da agudez, ela faz: iá iá iá iá iá iá.
3. contamos. na primeira vez, fez iá trinta e sete vezes. na segunda, vinte e quatro. na terceira, vinte e três. parece que não tem regularidade no tanto.
4. ela para os iás de repente. 

e o grandinho indo. ela parou os iás de repente. acho que ela te viu, falei. ele, devagar, voltou dois passos. ela voltou a gritar. ele continuou a andar. viu!, e me falou onde ela estava. ela continuou cantando. mas, de repente, ela parou de cantar e vum! voou na direção dele! fez um círculo: voou e voltou pra árvore, voou e voltou pra árvore! no susto, ele correu de lá! 

ela voltou a cantar. contei cinquenta iás e, quando entrei em casa, lá estava ele, no meu quarto, na cama.

foi assim.


quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Coisas da roça II

Dia desses, uma das vovós em casa, e a galinha lá fora: pó, popopó, popó, pó, popó...

A vovó aparece na sala e diz: oi? quem me chamou?



segunda-feira, 19 de novembro de 2012

CONTRA Violência na Infância - ou - eu quero mais é carinho

eu conheci uma menininha lindinha faz um tempinho. engraçado, não me lembro seu nome... ela era negra, não tão escura como sua mãe e sua avó, e por isso seu cabelo foi pintado de loiro. descolorido. 

essa menininha tinha cinco anos.

eu a conheci em uma escola em que trabalhei por um tempo. 

um dia, cheguei na escola e a professora dela veio conversar comigo, muito preocupada. a menina estava cheia de roxos pelo corpo e uma mancha branca no rosto. fui conversar com essa pequena. ela desenhava um jacaré nessa hora.

_ é que eu queria brincar na casa da minha amiga, da minha vizinha, e minha mãe não me deixou ir, por isso ela me bateu - a menina me disse.

que nada! é que a menina tinha que limpar a casa. pegou seu irmãozinho de seis meses no colo pra poder limpar o lugar onde ele estava e acabou deixando o neném cair. por isso a mãe bateu.

_ ela me bateu no bumbum, aí eu corri, aí ela me pegou e bateu nas costas, eu corri de novo. aí ela puxou meu cabelo, me jogou no chão e jogou um negócio branco na minha cara. 

_ o que era, meu bem?

_ eu não sei, mas doeu.

doeu em mim, também.

enquanto falava, começou a desenhar pressionando o lápis contra o papel cada vez mais e mais, até resgá-lo. pediu outra folha pra professora e não quis mais falar sobre isso. 

essa menininha me fez entender um pouco mais a violência na infância, me fez ser contra violência na infância de corpo e alma. denunciamos no conselho tutelar, mas os conselheiros também apanham com a impossibilidade de soluções. sentem solidão nesta luta - fato.

há quem pense que assim, sim, é violência, mas tapa no bumbum, não. não vejo diferença, a não ser na quantidade. a qualidade é a mesma: violência. 


e não me venha dizer que é educação! 

é que se acarinho a cabeça de uma criança e minha mão quase a cobre por completo, do mesmo jeito, cobre o bumbum por completo também se usar minhas mãos para bater.

eu não queria um gigante com a mão do tamanho do meu bumbum pra bater em mim - ainda que ele estivesse com as melhores das intenções. 

essa menininha não entendeu porque apanhou, pensou em um motivo completamente diferente. acho que nenhuma criança é capaz de entender a violência. ora, se nós também não somos...

eu quero mais é carinho.



sábado, 17 de novembro de 2012

Coisas da roça

de repente eu vejo uma vaca no quintal passando em frente à janelona do quarto das crianças. enoooorme.

o pai saiu e deixou o portão aberto.

tendo que levá-la para fora do quintal, fui. chovia ralo. eram três vacas. três!

eis a cena:

eu, na chuva, com um chicote e guarda chuva nas mãos, neném no colo, saí pra espantar as bichonas. 

a pequena, com medo da vaca pular a janela e dar uma chifrada nela, ficou no quarto em cima de uma caixa, olhando pela janela agitando uma vassoura na mão.

***

já o problema do pai é com galinhas.

outro dia, faz tempo, deixamos a porta da cozinha aberta e fomos pro quarto. eu, ele, a pequena e o mini menino. o pai cochilou. o grandinho chegou da escola e: uma galinha na cozinha. ele tentou espantá-la, mas a bichinha assustou e pulou no batente da janela cacarejando, batendo asas, barulheira danada! não saiu porque a janela é de vidro, mas derrubou na pia um copo que quebrou e o grandinho gritou de susto.

pronto. o pai acordou num susto maior que o da galinha e do grandinho, saiu correndo do quarto, viu a galinha, começou a gritar e correr atrás dela pela cozinha, a bichinha conseguiu achar a porta e saiu quintal afora, o pai, bravo, continuou correndo e gritando atrás dela, encontrou uma pedra, pegou, jogou nela, encontrou um tijolo, pegou, jogou - lógico que não acertou - até que a galinha correu pro quintal do vizinho e o pai voltou, tremendo. 

eu, a pequena e o grandinho ficamos na varanda de olhos arregalados, olhando tudo, morrendo de rir! 

e hoje, lá foi ele fechar a porteira e, ao se virar para subir pra casa, a danada da galinha com seus montes de pintinhos estava atravessando o caminho. e não é que a galinha avançou nele! brava! arrepiou suas penas e foi em cima! só parou quando todos os pintinhos atravessaram. foi uma gritaria danada, era grito, com cacarejo, com piado dos pintinhos...

ainda teve mais uma vez. uma galinha entrou na cozinha e o grandinho foi chamar o pai pra espantá-la. ele veio, pegou a bichinha pelo pé e perguntou: vocês já viram galinha voar? e vuuuum!, jogou a galinha quintal afora.

***

o grandinho também já foi atacado por galinha. também, ficou incomodando a bichinha... 

acontece! 



sábado, 10 de novembro de 2012

Mas era só calor do dente

febre alta repentina no mini menino e assim, de repente, eu também paro por uma noite e um dia inteirinho. por  medo que essa febre aumente e seja preciso uma medida urgente. paro por preocupação pelo conforto e bem estar dele. por uma ânsia de dúvida: de onde vem essa febre? o que a causa, meu santo?

a febre segue com vômito. deus, o que será? o que há? em seguida, então, um banho morno no colo e uma roupa quentinha, mas fresca. lição de vó pra baixar febre. como é ruim ver um menino assim - tão pequenininho - pálido.

e peito. e colo. ele dorme bem grudado em mim e eu me sinto a própria cura pra esse dodoizinho tão repentino, tão  simples e cruel com nosso coração de mãe que se aperta por essas intempéries da vida. 

mas como nos fazem nos sentir fortes! necessário o nosso colo, o nosso calor e o acalento que, parece, só nós mães podemos gerar. será? soa a prepotência. 

é que também é bom lembrar dos nossos super poderes. sim, nós os temos: nos braços, nas mãos e na voz que, juntos, nos fazem toda coração e curam o mal estar dos pequenos.


quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Saravá, mamãe!

depois de uma semana fora, voltamos e constatamos.

dos ovos da mariposa não saíram lagartinhas, ainda. que bom! continuamos no aguardo.

as íris estão florindo, a castanheira e o jatobá estão lindamente frondosos - santa chuva! 

a amoreira está dando amoras, a mangueira está dando mangas e a goiabeira está dando goiabas.
por aqui está tudo certo! 


terça-feira, 30 de outubro de 2012

domingo, 28 de outubro de 2012

Historinhas pescadas nas falas de crianças 5

uma pequena de 7 viu uma barracuda de brinquedo. em vez de dizer peixinho inflável, disse: olha! um peixim Flávio!


sábado, 27 de outubro de 2012

Músicas infantis

tantos grupos, bandas, cantores bons que tocam para crianças. mas dizer música infantil é o mesmo que falar em literatura infantil. "literatura infantil tem, a meu ver, existência duvidosa"... eu me dou o direito de dizer que Drummond pensava como eu penso. 

só que não é disso que quero dizer. de música infantil, agora, digo de versões criadas por crianças para músicas que elas escutam. a escuta infantil é outra, com suas palavrinhas, não com as nossas. 
vejamos.


1. 
menino do Rio
calor que provoca arrepio
dragão com a toalha no braço
calção corpo aberto no espaço
...


2.
um, dois, três
quatro, cinco, seis
com mais um pulinho
estou na perna do freguês

um, dois, três
quatro, cinco, seis
com mais uma mordidinha 
coitadinho do freguês

um, dois, três
quatro, cinco, seis
tô de barriguinha cheia
de algodão
auf wedersehen
...


nunca mais consegui ouvir essas músicas sem, ao menos, sorrir.


segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Declaração

Todo mini menino tem direito a colo sempre que chorar ou pedir, sem ser tachado de manhoso, manipulador ou coisa que o valha.

Todo mini menino tem direito a mamar sempre que quiser, mesmo que de cinco em cinco minutos.

Todo mini menino tem direito a confiar incondicionalmente (como só os mini meninos o sabem) em todo e qualquer adulto.

Todo mini menino tem direito a dedicação absoluta de alguns aldultos.

Todo mini menino tem direito a dormir agarradinho de vez em quando.

Todo mini menino tem direito a comer coisas que não são comestíveis.

Todo mini menino tem direito a ficar no chão, mesmo que sujo.

Todo mini menino tem direito a receber muito, muito carinho, beijinho e cheiro.

Todo mini menino tem direito a ser danado.

É por isso que nem todos adultos podem ganhar mini meninos.

E só assim teremos mini meninos felizes.


domingo, 21 de outubro de 2012

A hora e a vez da mariposa!

vez ou outra a impressão é de que se uma coisa não dá certo, outra chega pra substituir. 

dia desses eu a encontrei na porta. fotografei, de tão linda! os meninos não viram, estavam dormindo.



hoje, já bem velhinha, pôs seus ovinhos. o grandinho que viu, desta vez.


não pudemos acompanhar a lagarta amiga encasular e borboletar, então que tal vermos uma linda mariposa colocar ovos?
será que veremos o nascimento de lagartinhas?

já descobrimos que é um inseto da ordem Lepidoptera e da família Arctiidae.


vamos e veremos o que será depois! (de novo!) 
desta vez - mais legal -, sem intervenção nossa!


sábado, 20 de outubro de 2012

Diálogo sobre a morte

quando cheguei, consentiam que quando se morre não se acaba tudo, mas vive-se em outro lugar.

a pequena: _mas, então, quem é a imperatriz da vida?

o grandinho: _a imperatriz da vida, então, é a morte! porque quando a vida acaba, é a morte que leva pra outra vida.

a pequena: _então não se morre nunca, a gente vive pra sempre!!


quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Aperfeiçoamento

porque as coisas prosaicas não preocupam mais tanto e porque já se conhece melhor as crianças e a infância é que parece que se ama diferente. 
mas não. 

porque não existe um amôrmetro, porque amor não se mede nem na quantidade nem na qualidade. mas se aperfeiçoa nos gestos, nas palavras e no coração.

por isso parece que o mini menino é um privilegiadozinho, mas não. 

o aperfeiçoamento abraça todos os três.

por isso ter filhos faz da gente alguém melhor 
e maior.



quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Segundo dia das crianças

dia das crianças e o grandinho estava viajando. a brincadeira ficou pra alguns dias depois. foi bom. duas diversões!

pra ele as pistas foram escritas com tinta invisível. tinta de sumo de limão pra ser visível com o calor - quase queima o papel e a pista! -, de bicarbonato diluído na água pra ser vista com suco de uva, de mingauzinho de água com maisena pra se enxergar com iodo e pista escrita com cera de vela pra tinta guache diluída a mostrar. 

cada pista levava a uma pessoa da casa. e a última foi o mapa do presente que estava enterrado no mesmo lugar onde ficou o da pequena.













foi divertido também! 

ao estilo do grandinho.


sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Onde está a infância?

ano passado perguntei a sete crianças pra que existia o dia das crianças. pergunta besta! é pra ganhar presente caro, né!

nesta casa, a noite de 11 de outubro é, invariavelmente, tempo de trabalho.

é que há muitos anos já eu decidi só dar livros de dia das crianças. mas o principal do dia não é isso - eu bem sei - é que os pequenos ganham pistas e têm que encontrar o presente.

este ano, lote inteiro pela frente, foi em alto estilo!


começa na maior bola vermelha






















dia das crianças e quem fica feliz sou eu.

infância é dentro da gente.


quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Historinhas pescadas nas falas de crianças 4

ao voltar de uma viagem a pequena me mostrou dois arranhões.

perguntei:_ nossa!, que foi isso?
_ eu tava fugindo do primo e passei no meio de uma roseira.
_ e você não sabia que roseira tem espinho?
_ sabia! eu não sabia é que aquilo era uma roseira.


terça-feira, 25 de setembro de 2012

Ahhh, os irmãos...

eu recomendo a quem quer ter filhos que os tenham. 
mas eu recomendo fortemente que tenham mais que um filho. e garanto: pouca coisa é tão bonita quanto ver a construção da relação de irmãos. dura construção, árdua - mas linda!

eu não posso falar de irmãos que têm a idade próxima. mas eu posso decididamente falar da diferença boa de idade. e tenho por certo que leva a um orgulho mútuo. 

emociona ver o grandinho e a pequena comemorando cada passinho que o mini menino dá. cada aprendizagem dele é um evento aqui em casa. 

agora ele está engatinhando e o grandinho observa, ri, se diverte e seus olhos de menino briiiilham. a pequena bem faz suas estripulias com o mini menino, testa as capacidades dele e morre de dar risadas. assim ele vai aprendendo um pouquinho mais rápido. e diz ai, que bonitinho!, a cada vez que vê seus dentinhos novos. 

parece-me que não tem melhor jeito de aprender o cuidado que na relação de irmãos.  bom era ter filhos indefinidamente, pra não existir o mais novo. 

dizem que o caçula é mimado. não é, ele só não tem aquela chance que os outros tiveram de, ainda criança, aprender a cuidar de outra criança, de sentir os olhinhos brilhando e o peito se enchendo de coração a cada conquista daquele que é só um pouquinho menor que ele mesmo. 


domingo, 23 de setembro de 2012

A palavra é reflexão - ou - Isso é cobertor sob o queixo

e é bem porque cada gente é uma gente que a gente precisa o tempo todo todinho pensar sobre o que a gente faz da gente e entre a gente. agir por hábito não dá, a gente tem que pensar. sempre.


sábado, 22 de setembro de 2012

Sobre Barbie e generosidade

antes de ser mãe eu dizia que filha minha não teria Barbie. qual o quê! a maternagem nos leva a caminhos inimagináveis! ainda que bem veja e entenda os problemas da imagem da Barbie, é tão bom ver a filhota brincando feliz e contente... 

esses dias me pus muito a pensar sobre brinquedos. ora, são só suportes para a imaginação. a imaginação é o que conta. 

ontem a pequena apareceu com uma Barbie: pegou emprestada de uma amiguinha com nome de sereia. a boneca estava com a roupa rasgada e a pequena foi logo pedir ao pai que comprasse uma roupinha nova pra dar de presente pra amiga. que nada, disse o pai, faz uma junto com a mamãe.

ótima ideia! 

por acaso, dia desses um vestido da pequena rasgou. tiramos o forro do vestido e vamos fazê-lo virar um vestido novo. pegamos um pedaço que não estragou e vamos colocar um elástico pra virar uma saínha lindinha. e o pedaço que rasgou virou a blusa da Barbie. de um mosquiteiro velho - o mesmo que virou forro do terrário da nossa amiga lagarta - cortamos mais um pedaço e fizemos um saião.  a pequena ajudou a costurar: tão bonito ver aquelas mãozinhas trabalhando!


é disso que se trata a disponibilidade. 

enquanto fazíamos, a pequena dizia: ai, tomara que a Iara não chegue, tem que ser surpresa pra ela! pois bem, claro que ela chegou na horinha de terminar a saia! eu ouvi sua vozinha fininha e a vi pela janela. pequena! ela taí, esconde a boneca, esconde, esconde! deu tempo. quando olhei de volta pra pequena, ela estava pálida de susto.

uma fitinha pra completar a saia e, pela noite, terminei tudo. ganhei um sorriso tão bonito e um ai, mamãe, obrigada! tão sincero, tão espontâneo, junto com um abração nas pernas! 





amanhã a pequena vai devolver a Barbie com uma roupa nova. 
quem diria! por vezes acho que ser mãe é inevitavelmente cuspir pro alto. pois é... a tão mal falada Barbie me mostrou da pequena a generosidade. 


domingo, 16 de setembro de 2012

Historinhas pescadas nas falas de crianças 3

conheço um Jefferson Yuri que, quando aprendendo a escrever, viu a pequena aprendendo a falar e garantiu: vai ser muito difícil ela conseguir dizer o meu nome - porque se escreve com dois efes.


sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Filosofices do grandinho


deparei-me com essa hoje.
(daqui: http://blogdoorlando.blogosfera.uol.com.br) é a cara do grandinho, típico dele. ele não diria do mundo do trabalho ou do trânsito, mas diria do big bang, do universo. com estas devidas ressalvas, poderiam ser palavras da boca dele. 

dia desses me disse que preferia não ser assim, que muitas perguntas sem respotas pululam na cabeça. e a pulga atrás da orelha! eu digo: continua perguntando, um dia você encontra alguém que saiba a resposta. ou, talvez, você mesmo encontre a resposta, quem sabe... 

pergunta, pergunta, pergunta...

agora a nova mania é um joguinho de computador, esquisitinho, em que ele cava um buraco enoooorme, até chegar do outro lado do mundo. mas quando chega lá, morre: "João caiu para fora do mundo", aparece na tela.

pronto! foi a gota dágua pra reflexão. se fosse possível, ele começou, fazer um buraco pra chegar no Japão, como seria? será que a gente ficaria preso no centro da Terra? porque do lado de onde a gente começaria a cavar o buraco, teria a gravidade empurrando a gente para o fundo do buraco, mas quando a gente passasse para mais perto do Japão, a gravidade faria força no sentido contrário. como seria? a gente ficaria preso no centro da Terra?

bem, como diz a professora dele, durmam com essa!